Este estudo demonstra de forma clara o quanto o leite de vaca é prejudicial à saúde, principalmente, das crianças de 0 a 5 anos. O texto a seguir é apenas a discussão. Se quiser ler o estudo completo passe seu e-mail através de um comentário, terei imenso prazer em enviar o arquivo.
Consumo de leite de vaca e anemia na infância no Município de São Paulo
Cow’s milk consumption and childhood anemia in the city of São Paulo, southern Brazil
Renata Bertazzi Levy-Costa e Carlos Augusto Monteiro
Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde. Universidade de São Paulo. São Paulo,
SP, Brasil. Departamento de Nutrição. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil
A partir de amostra representativa de crianças com idades entre seis e 59 meses e da coleta e análise de informações sobre consumo de leite de vaca, concentração de hemoglobina e variáveis que poderiam confundir a relação entre essas duas variáveis, evidenciou-se que o aumento na participação relativa do leite de vaca na dieta infantil associa-se significativa e independentemente ao aumento do risco de anemia.
A associação entre consumo de leite e o risco de anemia manteve-se significativa, mesmo após levar-se em conta o efeito diluidor do consumo de leite sobre a densidade de ferro da dieta, evidenciando, assim, possível efeito inibidor do leite sobre a absorção do ferro presente nos demais alimentos ingeridos pelas crianças. Embora se admita que os instrumentos utilizados para aferição do consumo alimentar (inquérito recordatório) e da dosagem de hemoglobina (hemoglobinômetro portátil) comportem erros de aferição,10,22 tais erros não devem estar associados, o que levaria, portanto, à subestimação da magnitude da real associação encontrada entre consumo de leite e risco de anemia. É também importante notar que a avaliação do consumo alimentar da criança era feita antes do exame de concentração de hemoglobina, não havendo, portanto, conhecimento do status anêmico ou não anêmico da criança, seja por parte do entrevistador, seja por parte da mãe da criança, o que diminuiu a possibilidade de erros sistemáticos.
O caráter probabilístico e a implementação bem sucedida dos procedimentos empregados para a seleção da amostra original da pesquisa “Saúde e Nutrição das Crianças de São Paulo” indicam que os resultados do presente estudo podem ser estendidos para o conjunto da população infantil do Município de São Paulo.
Em teoria, a influência negativa do consumo de leite sobre a concentração de hemoglobina pode ser devida a dois mecanismos: o diluidor e o inibidor. O mecanismo diluidor se deve à baixa concentração de ferro presente no leite de vaca enquanto o inibidor estaria relacionado à presença no leite de cálcio, caseína e proteína do soro, elementos comprovadamente inibidores da absorção de ferro pelo organismo humano.4,5,17 Os resultados encontrados confirmam a importância desses dois mecanismos.
Outro possível mecanismo para a ação negativa do leite de vaca sobre a concentração da hemoglobina seriam os microsangramentos na mucosa intestinal que poderiam ser provocados pelo consumo de leite “in natura” ou pasteurizado, mas não pelo consumo de leite em pó diluído. Esses microsangramentos têm sido relatados na literatura especificamente em crianças no primeiro ano de vida.1,15 Entretanto, a inclusão neste trabalho de modelos de regressão do tipo de leite ingerido pela criança não indicou associação entre essa variável e a concentração de hemoglobina, seja no conjunto da amostra de menores de cinco anos seja em crianças no primeiro ano de vida (dados não mostrados).
O consumo excessivo de leite de vaca não modificado não é usualmente explicitado como determinante relevante da anemia na infância em publicações nacionais e internacionais que tratam do tema.2,11,20,21 Recente publicação da OMS, no entanto, recomenda que a ingestão de leite não coincida com as refeições principais.23